Vivemos em uma sociedade que caminha para a robotização. As pessoas tem vivido o que querem que elas vivam, o livre pensar e o livre arbítrio são direitos que nos foram cerceados por nós mesmos. Temos reprimido nossos verdadeiros desejos, para dar lugar aos desejos que a sociedade quer que tenhamos. Desde o tipo de sapatos que usamos até a música que escutamos, somos influenciados a ser de um jeito que agrade ao próximo, e a tribo a qual fazemos parte. O que realmente queremos não é o que pensamos, muito menos o que executamos. Uma tática utilizada pelos nossos colonizadores, e mais viva do que nunca no meio de nós, é a de fazer com que pensemos que os nossos anseios são secundários e o que realmente importa é agir de acordo com o que o nosso meio espera de nós, qualquer olhar que fuja da diretriz que nos aprisiona é condenado e mal visto pela sociedade, a eficácia desse método é tão evidente, que ele nos amedronta, impossibilitando que questionemos tudo ao nosso redor, pois o moralismo e o conservadorismo cumprem sua função de reprimir tudo que se auto conceitue como novo, ou, simplesmente questione o velho.
O ser humano caminha pelas ruas hipnotizado pelas placas de publicidade, assisti noticiários programados para programá-lo, escuta músicas sem conteúdo e que evitam a reflexão, o ser humano busca um estado de comodismo, onde possa gozar de todos os benefícios do capitalismo, sem se preocupar com os atingidos por tal sistema. Pois, não sejamos ingênuos, qualquer sistema que propicie ao ser humano o excedente, provoca inevitavelmente o déficit na vida de outro. Há quem diga, que isso é papo de revoltado, e como não me revoltar, em uma sociedade que não nos faz pensar, pelo contrário, vivemos uma sociedade que só nos faz querer um padrão de vida estipulado por ela, e nos envolve em uma competição com as pessoas ao nosso redor, culminado em um final feliz para uns, e em tragédia para outros. Muitos, com os olhos vendados, ficarão inconformados com minhas palavras, e o que mais me surpreende, é que são todos conformados. Conformados com a pobreza, a injustiça, a desigualdade social e a falta de oportunidade da maioria.
Vivemos tempos difíceis, e talvez seja só o começo de algo pior. O ser humano tem ocupado papéis que não dizem respeito a sua própria vida, temos encenado um filme, que sequer conhecemos o roteiro, e teremos um fim que se distancia muito do que realmente queremos. E sabe o que acontece com quem foge do set de gravação? Basta você imaginar, o que aconteceria com você se colocasse em prática todos os seus sonhos solitários, não digo dos sonhos que você é obrigado a sonhar, mas dos sonhos que você tem quando está sozinho, nas horas que te dá vontade de abandonar tudo e fazer o que realmente quer. Muitos não entenderão, pois já estão contaminados a tal ponto, que se ajoelham perante o sistema, e rezam um ''Pai Nosso'' alternado de uma ''Ave-Maria'', a cada milésimo de segundo que se desviam do padrão ético moral que nos é imposto. O ser humano bem visto no nosso meio é aquele que segue dignamente seu roteiro, todos aqueles que discordam, são vistos como loucos, enfim, é o meu caso.
Fazemos parte de uma sociedade cada vez mais doente, onde a ambição sem limites dos seus componentes, provoca o ódio e desrespeito entre todos. As leis estão mais que contaminadas e só servem para atender a insignificante parcela detentora da neutralidade do nosso não pensar. Sociedade de muitos, feita para poucos; poucos que se enfrentam incessantemente em busca de um patamar cada vez mais alto, e a finalidade dessa busca se resume em status, poder, dinheiro e fama. Em nossa sociedade os cifrões ofuscam os nossos olhos, esmagando o pequeno brilho do amor, solidariedade, respeito e paz - que de tão insignificante aos olhos de todos - brilham menos que uma barra de ouro. Muitos ainda dizem, que os cifrões compram tudo, e munido dessa argumentação, pessoas se matam em busca da riqueza material, que simultaneamente nos leva a pobreza interna. Não estou criticando aqueles que apenas buscam ter uma vida estável e confortável, e sim, a maioria esmagadora que deixam os cifrões corroer todos os valores benéficos ao coletivo.
Os robôs seguem perfeitamente sua mecanização, julgando sem conhecer, lendo superficialmente através das roupas e dos bens materiais, formulando uma opinião acerca dos demais pela aparência. É triste perceber que uma sociedade entende qualquer anônimo engravatado como uma pessoa de bem, e por outro lado, marginaliza qualquer outro ser humano que estiver descalço. Nosso caráter não pode ser medido pela roupa que vestimos ou pelo carro que temos. Nunca paramos para realmente entender as pessoas que não se encaixam no nosso padrão, e nem nos perguntamos o por quê de termos oportunidades tão distantes de uma criança, que a pobreza o abraça e a sociedade sufoca e exclui. Fazemos parte de uma sociedade, subdivida em tribos - que se agrupam pelos mais diferentes critérios - que são obedientes a algo ou alguém. Essas mesmas tribos devem satisfação para algum grupo ou até mesmo a um sobrenatural inexistente. Não quero me aprofundar nisso, mas apenas mostrar que vivemos uma grande farsa, e uma grande mentira, que tudo ao nosso redor nos faz acreditar ser real, e nunca é, nosso mundinho é sempre o cenário fictício de interesses maiores. Como lidar com essa situação? É muito mais fácil acordar todos os dias e seguir nossa agenda, sem pensar o que por quê de tudo aquilo, abdicando de uma reflexão sobre o propósito de nossa vivência. Refletir e agir contrário à correnteza, é coisa de demente nessa sociedade doente. Os que entenderam minhas palavras, provavelmente nada têm feito para mudar, acompanhar a melodia revolucionária das músicas ou ler as palavras reflexivas dos livros não é necessariamente agir, mas já é indiscutivelmente um avanço. Nós já vivemos em uma sociedade de palavras, estipuladas diga-se de passagem. Apenas uma sintonia perfeita entre a indignação de cada ser humano seria capaz de mudar tudo isto. A convivência com as pessoas tem me tornado cada vez mais descrente na possibilidade de mudança, entretanto, tenho vivido pautando mudanças pontuais que possam tornar a minha existência mais significante.
Tudo indica que marcaremos páginas de uma história de poucos, onde muitos foram usados como fantoches, sem sua permissão direta, mas compactuarão indiretamente pelas suas atitudes em um mundo globalizado, onde a tradição trata de perpetuar pela eternidade tudo isso que descrevi no texto. Por mais que tenha generalizado, de forma talvez equivocada, acho que todos nós contribuímos para a propagação de todos os erros anteriores e presentes em nossas vidas, embora ainda acredite que temos poder de remar em outra direção, o problema é convencer à todos que o nosso caminho é outro.
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